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PERCURSOS QUE IMPORTAM PARTILHAR



"...talvez nunca se tenha tido a noção tão clara do quanto a cultura e o património configuram bens essenciais, como durante este tempo de esvaziamento" Laura Castro



Laura Castro
18 maio 2020



Professora na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, de que foi directora entre 2013 e 2017. Investigadora e do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes da mesma Escola. Entre o início da década de 90 e 2006 trabalhou no sector cultural. Escreve sobre arte moderna e contemporânea; museologia; arte, natureza e paisagem; arte pública. É membro da APHA (Associação Portuguesa de Historiadores de Arte) e da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), e presidente da direcção do Círculo de Cultura Teatral / Teatro Experimental do Porto.


Q1. O seu percurso académico e profissional compreende áreas como a da História da Arte, Museologia e Curadoria mas também um interesse muito particular, por exemplo, pela Arte Pública. O que suscitou esse interesse em especial por este domínio?


LC: Foi a circunstância de ter conhecido um investigador em arte pública, hoje um grande amigo – José Guilherme Abreu – na Associação Portuguesa de Historiadores de Arte, no momento em que a Associação estava a publicar um boletim. Um deles foi dedicado a essa temática e a partir daí não deixei de me interessar pelo assunto que levanta questões interessantíssimas. Depois fiz a tese de doutoramento sobre exposições de arte na paisagem, o que me levou a olhar para as obras e intervenções em espaço público de um outro ângulo. Neste ponto, a reflexão sobre o espaço público em contexto urbano e em contexto rural interessa-me particularmente.


Q2. Noutro aspeto, quem foram as pessoas e/ou profissionais que mais a inspiraram a prosseguir carreira, por exemplo, na área da Curadoria?


LC: Não sei se se tratou de uma inspiração... Na verdade, as primeiras oportunidades de trabalho que tive não relacionadas com o ensino, depois de deixar a Faculdade de Letras, estão ligadas a três figuras determinantes: o crítico Fernando Pernes, o pintor Armando Alves e o editor José da Cruz Santos. Essas oportunidades abriram um campo de trabalho acerca do qual tinha poucas informações, uma vez que não era uma área abordada no contexto da história da arte dos anos 80. A partir da década de 90 tudo mudou. Depois, a minha colaboração na concepção e organização de exposições foi acontecendo no âmbito dos municípios com os quais trabalhei, em museus e galerias.


Q3. Que livros ou outros documentos de livre acesso considera de leitura obrigatória para um curador, na atualidade?


LC: É difícil dar uma resposta directa e assertiva, por um lado, porque são muitíssimas as publicações, os artigos e os livros disponíveis – nomeadamente periódicos especializados – e, por outro, porque essa escolha varia certamente com os nossos interesses específicos. Se entendermos a curadoria como deve ser entendida, isto é, como um campo de afirmação de ideias, problemas e causas, haverá que definir interesses e pontos de vista, e partir daí. O que está a acontecer actualmente é o abastardamento total da palavra curadoria que é usada como sinónimo da mera organização de exposições. Há imensas exposições individuais de artistas que aparecem com um “curador” sem que se perceba bem qual é o seu papel. Muitas instituições insistem demasiado na importância de ter um curador associado ao acontecimento, com receio de não estar à la page, e é assim que o “curador” à força aparece (o que já aconteceu comigo, diga-se de passagem).


Respondo à pergunta de forma comodista, aproveitando dois livros que vou apresentar no âmbito do Centro de Investigação a que pertenço, o CITAR: Maura Reilly - Curatorial Activism. Towards an Ethics of Curating, 2018; Robert Janes; Richard Sandell (Eds.) Museum Activism, 2019. São dois livros que apresentam uma tendência relevante da curadoria e da actividade museológica inscrevendo-as em causas políticas e sociais, identitárias, ambientais, entre outras. O primeiro é um panorama histórico de grandes exposições desde os anos 70 a 2015, no mundo ocidental, e o segundo é uma colectânea de artigos sobre experiências interessantíssimas em museus de todo o mundo.


Q4. Quais os projetos em que esteve envolvida profissionalmente de que mais se orgulha de ter participado ou que gostaria de salientar, como eventuais marcos na sua carreira? Por que motivos?


LC: Sem pensar muito, poderia apontar: a inauguração da Galeria Municipal do Porto em que trabalhei numa exposição panorâmica da arte na cidade, ao longo do século XX, com Fátima Lambert. Foi uma experiência extraordinária por tudo o que o acompanhamento da construção do edifício, a procura de linhas programáticas e a exposição envolveram. Mais recentemente, posso citar a exposição que encerrou o centenário de Júlio Resende, no Museu Nacional de Soares dos Reis, em que fiz equipa com Ana Temudo e Ana Paula Machado Santos.


Q5. Num artigo de opinião, publicado recentemente no jornal Público, analisa algumas das estratégias levadas a cabo por museus e outras instituições, durante este período de encerramento de portas ao público. Na sua perspetiva, e de um modo geral, que limitações, mas também que potencialidades, poderão residir na utilização de recursos e ferramentas digitais e/ou online?


LC: Todos assistimos neste período de quarentena devido à epidemia da COVID 19, a uma vertiginosa utilização das redes sociais e de todas as plataformas online para quebrar o isolamento em que nos encontrámos de um dia para o outro. E assistimos a algumas coisas deploráveis. De facto, utilizar os meios digitais para produzir e difundir cultura, bem como para comunicar e gerar debate, implica pensar e trabalhar com esses meios. Difundir online conteúdos pensados para outros suportes e plataformas resulta em acções de grande amadorismo e pouco eficazes. Registar imagens e sons, editá-los, fazer entrevistas, orientar visitas online, são actividades que requerem uma abordagem profissional e dedicada. Para já não falar da questão dos direitos de autor que, não tanto no caso do património e dos museus, mas no campo do espectáculo, foi muito mal tratada.


Devo dizer, a título de exemplo, que o Círculo de Cultura Teatral / Teatro Experimental do Porto, a cuja estrutura directiva pertenço, elaborou um programa de difusão dos seus espectáculos, exclusivamente destinado ao seu círculo de associados (depois de recolher todas as autorizações necessárias e acautelar os direitos inerentes de todos os envolvidos), intitulado Dez Anos a Andar na Linha. Ver teatro filmado é uma experiência diferente da experiência do teatro, mas, uma vez que a realização dos filmes e as gravações estão excelentes, é possível usar este programa para revisitar e reflectir sobre uma década de trabalho. É um ponto de situação que desperta sentido crítico, dentro de um âmbito devidamente identificado. Outra coisa seria difundir filmes de 2h30, através do Facebook, sem qualquer enquadramento e sem outra finalidade que não a de preencher calendário e acompanhar a vaga.


Em síntese, não é possível pensar de forma desgarrada nas actividades, dissociando-as do seu ambiente de difusão.


Q6. Quais são, para si, as maiores ameaças para a preservação do património cultural, no pós-crise? Que papel poderá o Património ter no pós-crise, como recurso e como agente de mobilização cultural, identitária e económica?


LC: Aqui haveria que distinguir, por um lado, grandes núcleos monumentais e museológicos, por exemplo, que são fortemente afectados pela quebra do turismo e, por outro, aquele património que tem menos visibilidade e presença na esfera pública, sem que, por isso, deixe de ser representativo e pertinente.


No primeiro caso, e pensando em termos do turismo, é admissível que a gestão futura tenha de se adaptar a uma nova realidade, não apenas em termos logísticos, mas em termos financeiros. Ao mesmo tempo, devemos pensar nas políticas de contenção de visitantes que, em muitos locais, já se estavam a fazer face aos excessos e aos riscos decorrentes da exploração massiva do património. Talvez seja uma oportunidade para retomar esta problemática e equilibrar a vertente económica com as outras vertentes que enuncia na pergunta. Qualquer núcleo museológico e patrimonial deve equilibrar os seus visitantes e não privilegiar uns e excluir outros (como tem acontecido, por vezes). A programação e a gestão têm de compatibilizar os interesses de públicos diversos: turistas ocasionais e residentes; vizinhos e curiosos; educativos e de entretenimento; regulares e fortuitos... Um trabalho equilibrado são será, possivelmente, tão vulnerável a uma quebra acentuada num dos segmentos.


No segundo caso, penso, por exemplo, em acervos patrimoniais que pertencem a instituições de pequena dimensão, a instituições que não têm missão patrimonial em sentido estrito (associações, casas comerciais, etc.) que requerem apoios públicos e mecenáticos (dificílimos de angariar) para preservar, divulgar e valorizar esses acervos e que estarão mais frágeis num futuro imediato porque todas as atenções se voltam para o essencial.


Sobre esta questão do essencial, também importa dizer que talvez nunca se tenha tido a noção tão clara do quanto a cultura e o património configuram bens essenciais, como durante este tempo de esvaziamento.


Q7. Como antevê a reabertura ao público de museus e monumentos, simbolicamente agendada para o dia 18 de maio (data em que assinala o Dia Internacional dos Museus). Que principais desafios poderão enfrentar as entidades gestoras e promotoras do Património Cultural face, a título de exemplo, às limitações de acesso aos sítios e coleções e/ou às regras de segurança para os visitantes?


LC: Os museus são, tradicionalmente, sítios onde se fazem sentir de forma marcante as limitações, os constrangimentos e as restrições ligadas ao seu protocolo específico e não tem sido a evolução registada na teoria e na prática museológicas que tem conseguido alterar esta realidade, até porque a natureza do património em causa e as preocupações de salvaguarda, são também determinantes na definição de regras. Agora acrescem preocupações com a saúde dos visitantes e dos profissionais. Este pode ser um momento interessante para reflectir sobre a natureza regrada e controlada dos museus, ver o seu funcionamento do lado de fora, à distância.


Q8. Concorda que existe falta de interesse por parte da população mais jovem e dos jovens profissionais, para o Património e a sua preservação? Se sim, o que poderá ser feito para tentar inverter esta situação, promovendo uma educação patrimonial mais participada?


LC: A palavra património é uma palavra pesada. Traz com ela muita seriedade e responsabilidade; evoca, ainda, para muitos, um passado distante e sem interesse; suscita, para outros, a obsessão de preservar o que a evolução natural da sociedade já condenou, sendo, por isso, para outros ainda, um obstáculo ao desenvolvimento. Poderia continuar a enumerar aspectos que afastam muitas pessoas das questões patrimoniais, aspecto que se agrava quanto menor a idade em causa. Haveria que validar esta impressão que formei na Escola das Artes na divulgação dos cursos ligados ao património e à conservação, menos atraentes, em regra, do que os de cinema e fotografia, por exemplo... A esta impressão somei outra, a de que todo o movimento de digitalização do património (nas suas utilizações diversas) poderá, eventualmente, ter um papel na sensibilização e na mobilização para o património.


Para lá desta via da digitalização, haverá outras estratégias a utilizar, particularmente todas as que conseguirem promover abordagens do património a partir dos interesses do presente, sem ter receio de discussões e controvérsias. Na verdade, reconhecer valor e atribuir interesse ao património resultam, frequentemente, da percepção do que esse património significa em termos simbólicos para uma comunidade e da averiguação do seu impacto (positivo e negativo) no presente.



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